CASO CLÍNICO: TERAPIA ENDODÔNTICA EM SESSÃO ÚNICA

Primeiramente, foi realizado o diagnóstico do caso. Paciente do sexo masculino, 16 anos, compareceu à Clínica da Faculdade de Odontologia da Universidade de Ribeirão Preto com dor espontânea no dente 36. Procedeu-se à anamnese, com levantamento da história médica pregressa do paciente. Ao exame clínico intraoral, constatou-se extensa cárie no primeiro molar inferior esquerdo, que aos testes de vitalidade respondeu de forma positiva, com declínio lento, ao frio e negativa à percussão. O exame radiográfico (Figura 1) sugeriu que a lesão cariosa já havia atingido a câmara pulpar, porém sem alterações na lâmina dura da região apical. O diagnóstico foi de pulpite irreversível, e o tratamento indicado foi a terapia endodôntica em sessão única.

Figura 1. Exame radiográfico evidenciando extensa lesão por cárie no elemento 36, com integridade de lâmina dura e imagem sugerindo a presença de 4 canais radiculares. A seta indica a constrição cervical nos canais mesiais.

Tendo em vista a possibilidade de tratamento em sessão única e a complexidade do caso (molar inferior com quatro canais), decidiu-se pela utilização do Sistema Pro-File taper.04. Após anestesia por bloqueio do nervo alveolar inferior, foi feito o isolamento absoluto do dente, remoção do tecido cariado e cirurgia de acesso, localizando-se os canais radiculares (Figura 2).

Figura 2. Fotografia evidenciando a cirurgia de acesso e visualização da entrada dos canais radiculares após a remoção da polpa coronária.

Deve-se utilizar uma solução irrigante auxiliar no preparo do canal radicular, dotada de ação lubrificante, bactericida e capaz de atuar sobre matéria orgânica, dissolvendo restos pulpares. A solução que melhor atende a estes quesitos é o hipoclorito de sódio em concentração variando de 0,5 a 5,0%, devendo ser usada em quantidades generosas e dispensada no interior do canal radicular com o auxílio de uma agulha fina, preferivelmente de anestesia (Figura 3). Neste caso, utilizou-se o líquido de Dakin (hipoclorito de sódio a 0,5% com pH reduzido por ácido bórico).

Figura 3. Inundação da câmara pulpar e dos canais radiculares com hipoclorito de sódio, valendo-se do adaptador para seringa Luer-lock e utilização de agulha de anestesia.

Para facilitar a ação dos instrumentos e evitar a formação de stress, que poderia levar à uma fratura da lima, as interferências cervicais foram removidas com o auxílio de alargadores de orifício (ou de Auerbach) e limas Hedströem (Figura 4).

Figura 4. As fotografias evidenciam a eliminação das interferências cervicais. A) Utilização do alargador de orifício B) lima Hedströem. C) A radiografia mostra o desgaste dentinário promovido na constrição cervical do canal (setas), facilitando o acesso aos condutos (compare com a radiografia de diagnóstico, Figura 1).

Após a remoção das interferências cervicais, efetuou-se a odontometria para determinação do comprimento de trabalho, seguida por um alargamento dos condutos até uma lima nº 15 (Figura 5).

Figura 5. A) Fotografia com as limas em posição para odontometria. B) Radiografia de odontometria em que se observa o limite determinado para o preparo do canal radicular.

Realizado o preparo cervical e a odontometria, os canais estão preparados para receber as limas ProFile. Introduziu-se o instrumento nº 15, girando a uma velocidade de 300 rpm, até o comprimento de trabalho, sem exercer pressão. (Figura 6)

Figura 6. Fotografia evidenciando o contra ângulo com a lima ProFile nº 15 sendo introduzida no canal mesial.

Continuou-se com o preparo, utilizando instrumentos maiores, até alcançar o instrumento de memória, sempre irrigando com NaClO (Figura 7). Os canais mesiais e o disto-vestibular foram alargados até a lima número 30; o canal disto-lingual teve a lima número 35 como instrumento de memória.

Figura 7. Preparo dos condutos utilizando-se as limas ProFile números 20, 25 e 30 (Figuras A, B e C, respectivamente).

Para finalizar, os canais estarão prontos para receber os cones de guta-percha. Deve ser feita a prova dos cones de guta-percha, com a devida confirmação radiográfica (Figura 8). Caso haja travamento satisfatório dos mesmos, pode ter início a sequência de obturação.


Figura 8. A) Cones de guta-percha no interior do canal radicular. B) Aspecto radiográfico evidenciando os cones de guta-percha preenchendo o espaço do comprimento de trabalho determinado.

Confirmado radiograficamente o sucesso da obturação, foi feito o corte dos cones de guta-percha abaixo da linha cervical, com o auxílio de instrumento aquecido ao rubro. Em seguida, efetuou-se a condensação vertical da obturação e a limpeza da câmara pulpar; um material selador provisório foi utilizado (Cimpat®, Septodont, França) e executada uma radiografia final para preservação do caso (Figura 9).

Figura 9. Aspecto radiográfico final em que se observa a adaptação precisa da obturação ao tamanho e forma do último instrumento utilizado.

Fonte: FORP USP