Quais as perspectivas dos tratamentos odontológicos restauradores durante e após a fase crítica gerada pela pandemia de Covid-19? Entenda como o impacto econômico pode interferir na escolha de tratamentos no futuro próximo.
É com grande satisfação que hoje me apresento como colunista do Blog Proclin Dental. Meu nome é Alvaro Junqueira, nasci no interior do estado do Rio de Janeiro e moro há 8 anos em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Aqui, tive a oportunidade de cursar desde minha Especialização até meu Doutorado na Universidade de São Paulo. Atualmente trabalho com ensino e prática privada, especialmente na área de Dentística. Sendo assim, neste novo projeto que terá periodicidade mensal, espero poder auxiliar um pouco em sua rotina clínica por meio dos textos e conhecimento que compartilharei por aqui!
A Odontologia sempre foi um braço indispensável da área da saúde e o impacto desta ciência na qualidade de vida da população é evidente! Sobretudo, é possível observar que a parte estética desta profissão foi excessivamente valorizada nos últimos anos. Apesar de atuar numa das especialidades mais ligadas à beleza do sorriso, confesso que sempre encarei esta realidade com certo incômodo. Não me entendam mal: jamais neguei a importância ou a necessidade de tratamentos puramente estéticos, visto que impactam na qualidade de vida de nossos pacientes. Entretanto, deve-se considerar os riscos desta supervalorização ocorrer em detrimento da manutenção racional das estruturas naturais e do perfeito funcionamento do sistema estomatognático.

Contudo, vivemos atualmente um período que se encontra na “contramão” das tendências da Odontologia Estética. Esta realidade exige que procedimentos eletivos e complexos devem ser postergados sempre que possível, priorizando tratamentos pontuais e urgentes. Entretanto, sabemos que esta fase é passageira, mas como será a “volta ao normal” a curto prazo? Não há dúvidas que tratamentos estéticos eletivos voltarão a fazer parte da nossa rotina clínica assim que as crises sanitária e econômica terminarem. Porém, enquanto vivemos sob a incerteza de quanto tempo levará para a pandemia deixar de ditar as prioridades dos procedimentos realizados em nossos consultórios, penso no impacto econômico como um fator decisivo na escolha das mais diferentes abordagens odontológicas. Inclusive, deve-se levar em consideração que isto ainda deverá ser uma realidade por um certo tempo após o fim da crise sanitária.
Neste contexto, creio ser razoável esperar que nossa clientela dê prioridade a tratamentos pontuais e de valores mais acessíveis não só durante este período crítico, mas também a curto e médio prazo após o fim da pandemia. Afinal, será que nossos clientes terão estabilidade financeira para comprometerem-se com grandes reabilitações? E quanto à escolha de peças indiretas em dentes com perda significativa de remanescente dental: seguirá uma opção economicamente viável para o mesmo grupo de pacientes? Ou alguns precisarão optar por grandes reconstruções em técnica direta? Sei que indicações existem para cada caso, mas creio que continuaremos a nos deparar com situações clínicas em que a escolha por tratamentos de menor custo irá se fazer necessária.

Contudo, será neste momento que o capricho clínico, o uso de materiais de qualidade e a execução apurada de técnicas adequadas irão, mais do que nunca, favorecer o profissional capacitado. Afinal, qualquer modalidade de tratamento precisa ter bom prognóstico!
Considero ser nosso dever apresentar opções de tratamento adequadas do ponto de vista clínico e científico e que, ao mesmo tempo, façam parte desta nova realidade financeira. Isto provavelmente demandará consultas mais longas, é verdade! Por exemplo: fazer uma grande reconstrução em resina composta exige tempo, por mais capacitado que seja o profissional. Por outro lado, o problema relatado pelo paciente pode ser resolvido em uma única sessão, diminuindo o custo do tratamento e o número de visitas necessárias. Lembremos que cada consulta é invariavelmente atrelada não somente a custos operacionais, mas também a contatos interpessoais variados, que aumentam as chances de possível contaminação. Seguindo o mesmo raciocínio, um tratamento endodôntico com possibilidade de resolução em sessão única também diminui custos e pode contribuir para finalização mais rápida do plano de tratamento, sobretudo quando o procedimento restaurador puder ser feito de imediato.
Em outras palavras, encaro a opção pelo menor número de consultas, ainda que mais longas e resolutivas, como imprescindível. Por isso, sugiro a todos os colegas uma reflexão quanto ao domínio e à possibilidade de emprego dessas estratégias. Aproveitem a disponibilidade de cursos online, tirem um tempo diário para ler livros e artigos: atualize-se! Uma das qualidades mais importantes que podemos ter como profissionais é a resiliência. Novas realidades requerem novas condutas.
Coloco-me à disposição para disponibilizar gratuitamente materiais de estudo, responder perguntas, opinar e contribuir com tudo o que estiver ao meu alcance. Sugestões de temas para a coluna também serão sempre bem-vindas!
Um forte abraço a todos!
AJ.
Alvaro Augusto Junqueira Júnior
CROSP- 105.542
Especialista, Mestre e Doutor em Dentística (FORP-USP)
Instagram: @aaajunqueira