O “assunto da moda” na Odontologia está em constante mudança. Porém, de tempos em tempos, retorna o tema dos “limites dos procedimentos estéticos”. Pessoalmente, encaro a estética como a parte mais subjetiva de nosso trabalho. Um exemplo que sempre gosto de dar: uma coroa metálica no incisivo lateral superior incomodaria quase todos nossos pacientes, certo? Mas… e aquele paciente tatuado, com piercings e cabelo pintado? Pois é, já atendi um assim! O dente possuía grande destruição e requeria a confecção de uma coroa, etapa em que o paciente pediu pelo aspecto metálico da peça.
Percebem como o que é belo para mim pode ser diferente do que é belo para você? Que isso varia bastante entre nossos pacientes? Neste ponto, acho razoável concordarmos que o paciente deve sim ter voz ativa na escolha de determinadas etapas do processo restaurador. A maioria prefere dentes bem claros. Por vezes, claros até demais! Lembremos que é o paciente que tem esse gosto e é ele quem vai conviver com os dentes. Cabe a nós informarmos sobre aquilo que é natural e aconselharmos nas tomadas de decisão desta etapa.

Entretanto, vejo muitos dentistas usarem este raciocínio para extrapolar uma série de condutas mutiladoras a seus pacientes. Desgaste indevido de dentes hígidos, alterações exageradas de forma, presença de sobre-contornos em áreas de higienização (já vi até peças unidas), opção por tratamentos que não corrigem verdadeiramente a função, etc., etc., etc… quase sempre com o seguinte argumento: “Meus pacientes pedem assim!”. A questão é que o paciente é leigo – no termo literal da palavra, sem ser pejorativo aqui. Ele não sabe que o mal posicionamento generalizado dos dentes deve ser corrigido com tratamento ortodôntico, não com volumosos acréscimos de materiais restauradores sem qualquer critério. Ele não imagina que todo desgaste dentário é um dano irreversível ao dente (mesmo que alguns profissionais digam o contrário). Ele desconhece a necessidade de confecção de adequado perfil de emergência, imprescindível para a saúde periodontal. Resumindo: é o bom senso do profissional que estudou para isso – ou deveria ter estudado – que deve prevalecer. A cor das facetas é negociável: os princípios fisiológicos atrelados a estes procedimentos, não!
Por fim, pergunto: será que isso é culpa somente dos pacientes, que solicitam estes tratamentos? Hoje em dia, o Instagram virou terra fértil para a propagação desses tratamentos bizarros: profissionais sem qualquer formação e/ou experiência viram formadores de opinião, inventam “protocolos” sem qualquer embasamento científico, pregam tratamentos absurdos e oferecem cursos e mais cursos para “ensinarem suas técnicas”. Todos acabam prejudicados: 1 – os pacientes, irreversivelmente mutilados; 2 – os colegas, enganados; 3 – a profissão, desvalorizada; e 4 – a saúde da população, deixada de lado. Tem até alguns formadores de opinião que querem “se respaldar” em títulos (obtidos sabe-se lá como ou de onde), como se isso os desse sinal verde para ensinar qualquer absurdo.
Meu conselho a você, leitor, é escolher bem os profissionais que nortearão sua filosofia de trabalho. Evite ideias somente por estarem na moda, dê preferência a profissionais com experiência clínica e formação acadêmica séria. Muitos “professores” enganam muitos colegas, mas por pouco tempo. Aqueles que perduram pelos anos e são respeitados pelos pares estão em menor número, mas valem toda a nossa atenção! Longe de mim citar exemplos, pois certamente esqueceria de vários nomes importantes e não quero ser injusto. Mas uma dica é: quando você encontrar um deles, não vai ter dúvidas de sua competência! São facilmente distinguíveis dos professores voláteis de Instagram.
Forte abraço!

Alvaro Augusto Junqueira Júnior
CROSP- 105.542 – Especialista, Mestre e Doutor em Dentística (FORP-USP)
[email protected] / Instagram: @aaajunqueira
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