SORRISO GENGIVAL

Recobrimento radicular pela técnica de Zucchelli & De Sanctis.

É cada vez mais comum o paciente apresentar recessão gengival em nossos consultórios, muitas vezes associada com lesões cervicais não cariosas. Isso está relacionada ao novo estilo de vida da sociedade moderna, com a rotina cada vez mais agitada, indivíduos ansiosos com hábito de apertamento dentário, alimentação estilo junk food e dieta ácida. A recessão gengival é caracterizada pelo deslocamento apical da margem gengival. Sua principal causa é devido ao processo inflamatório na gengiva, principalmente em fenótipo fino, influenciado por vários fatores como a resposta ao acúmulo do biofilme dental, trauma mecânico na escovação, vestibularização dentária, inserção muscular e frênulo altos, ausência de gengiva queratinizada e fatores iatrogênicos relacionados aos procedimentos restauradores, como o excesso de resina na cervical dos dentes.

A cirurgia plástica periodontal é indicada para o recobrimento radicular tendo como objetivo solucionar a estética, hipersensibilidade dentinária e a prevenção de cáries e lesões cervicais não cariosas. Várias técnicas cirúrgicas foram propostas, e sua seleção dependerá de diversos fatores, como a presença de gengiva queratinizada, profundidade da lesão, altura e largura de papila, presença de osso interproximal e a quantidade de dentes com recessão. Em 2000, Zucchelli e De Sanctis propuseram uma técnica de retalho deslocado coronalmente associado à rotação das papilas cirúrgicas, para recobrimento de recessões múltiplas com demanda estética.

Inicialmente é escolhido o centro do retalho, o qual será o dente central das recessões múltiplas ímpares, ou quando a quantidade for par, entre os dois dentes centrais seleciona o de maior profundidade. São realizadas incisões paramarginais oblíquas, partindo da junção cemento esmalte do dente com recessão em direção à margem gengival dos dentes adjacentes, que são abordados com incisões intrassulculares complementares. A altura dessa incisão será de acordo com a profundidade da recessão, somando mais 1 mm, a partir da ponta da papila anatômica. Assim, serão desenhadas duas papilas: a cirúrgica (após as incisões) e a anatômica (já existente). O retalho trabalhado é misto: dividido-total-dividido, em que na região de papila é de espessura parcial, acima da recessão é total para promover maior espessura do retalho na área crítica de recobrimento, e a porção mais apical retorna a ser parcial. A incisão profunda vai além da linha mucogengival, com a lâmina posicionada paralela ao osso para dividir o retalho. Nesta fase, o retalho ainda tem tensão para deslocar coronal, desta forma, é importante realizar a incisão superficial direcionando a lâmina paralela a linha mucogengival, para liberar as inserções musculares. Após a elevação do retalho a porção das raízes, que estavam expostas ao meio oral, são mecanicamente tratadas. As papilas anatômicas são desiptelizadas e então, realizadas as suturas com objetivo de deslocar coronalmente o retalho.

Como conclusão, a técnica de recobrimento descrita por Zucchelli & De Sanctis é abrangente e com alta taxa de sucesso no recobrimento em pacientes com exigência estética. Esta técnica é possível de ser trabalhada em lesões múltiplas, rasas ou profundas, sendo que a ausência de gengiva queratinizada não é um fator limitante de execução da técnica. Em fenótipos finos é indicado associar enxerto conjuntivo subepitelial, para melhor previsibilidade de recobrimento e estabilidade a longo prazo. Nas áreas de perda óssea interproximal deve ser avaliado com cautela, havendo possibilidades de outras técnicas alternativas.

Profa. Ms. Valessa Florindo Carvalho
Cirurgiã Dentista pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU) / Mestre em Clínica Integrada pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia (FOUFU)/ Especialista em Periodontia pela Associação Odontológica de Ribeirão Preto (AORP) / Doutoranda em Periodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FORP-USP).

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